setembro 19, 2006

Vista Cansada


Se eu morrer, morre comigo um certo modo de ver, disse o poeta. Um poeta é só isto: um certo modo de ver. O diabo é que, de tanto ver, a gente banaliza o olhar. Vê não-vendo. Experimente ver pela primeira vez o que você vê todo dia, sem ver. Parece fácil, mas não é. O que nos cerca, o que nos é familiar, já não desperta curiosidade. O campo visual da nossa rotina é como um vazio.
Você sai todo dia, por exemplo, pela mesma porta. Se alguém lhe perguntar o que é que você vê no seu caminho, você não sabe. De tanto ver, você não vê. Sei de um profissional que passou 32 anos a fio pelo mesmo hall do prédio do seu escritório. Lá estava sempre, pontualíssimo, o mesmo porteiro. Dava-lhe bom-dia e às vezes lhe passava um recado ou uma correspondência. Um dia o porteiro cometeu a descortesia de falecer.
Como era ele? Sua cara? Sua voz? Como se vestia? Não fazia a mínima idéia. Em 32 anos, nunca o viu. Para ser notado, o porteiro teve que morrer. Se um dia no seu lugar estivesse uma girafa, cumprindo o rito, pode ser também que ninguém desse por sua ausência. O hábito suja os olhos e lhes baixa a voltagem. Mas há sempre o que ver. Gente, coisas, bichos. E vemos? Não, não vemos.
Uma criança vê o que o adulto não vê. Tem olhos atentos e limpos para o espetáculo do mundo. O poeta é capaz de ver pela primeira vez o que, de fato, ninguém vê. Há pai que nunca viu o próprio filho. Marido que nunca viu a própria mulher, isso existe às pampas. Nossos olhos se gastam no dia-a-dia, opacos. É por aí que se instala no coração o monstro da indiferença.
(Otto Lara Resende)

setembro 03, 2006

Não Digas Nada


Não digas nada !
Nem mesmo a verdade
Há tanta suavidade em nada se dizer.
E tudo se entendes.
Tudo metade
De sentir e de ver...
Não digas nada
Deixa esquecer.
Talvez que amanhã
Em outra paisagem
Digas que foi vã
Toda essa viagem.
Até onde quis
Ser quem me agrada...
Mas ali fui feliz
Não digas nada.

(Fernando Pessoa )

setembro 01, 2006

O Mestre do Horror

Sou fã de filmes e livros de suspense e horror e para mim não existe um autor tão bom quanto Stephen King nestes gêneros, com certeza o título de "Mestre do Horror" lhe cai perfeitamente bem, pois ele é responsável por algumas das maiores obras primas de suspense e horror do século XX, como “A Coisa”, “Cemitério Maldito”, “Christine”, “Tommynockers” entre outros e creio que é por esta razão que cerca de 50 livros (ou contos) de King já viraram filmes, sendo alguns grandes sucessos, tais como “Carrie” de 1976, “O Iluminado” de 1980, “Christine” de 1983, “Conta Comigo” de 1986, “Louca Obsessão” de 1990, “Um Sonho de Liberdade” de 1994, "IT - Uma Obra Prima do Medo" de 1995, “A Espera de um Milagre” de 1999, e outros um tremendo fracasso como “Às Vezes Eles Voltam”, “Sonâmbulos”, “Fenda no Tempo” e “Jovem Outra Vez”. Acho que King é mestre na arte de colocar medo no leitor, já li vários de seus livros e confesso que fiquei com um pouco de medo de dormir e algumas vezes não tinha coragem de levantar da cama achando que alguma coisa iria sair debaixo da cama, ou de um cano ou ralo no banheiro, e me pegar. Isso deve ter acontecido com outros leitores de Stephen King (pelo menos assim espero) pois King é mestre na criação de personagens, sempre os dando uma grande complexidade, tornando-os seres reais, aproximando-os ainda mais dos leitores que sentem todo o pavor, dor, fúria, surpresas e triunfos, como se fossemos nós os protagonistas de seus livros. É impossível ler alguma obra de King e não se identificar com alguma de suas personagens. É verdade que alguns de seus livros são verdadeiros clássicos do terror psicológico - como “O Iluminado” , “Rose Madder” , “Jogo Perigoso” , entre outros, mas tenho que admitir de Stephen King também tem seus deslizes tais como os livros “Desespero” e "O Apanhador de Sonhos", que não são ruins, mas não são tão bons quanto os outros livros, afinal todos temos nossos altos e baixos e não seria diferente como o "Mestre do Horror".