fevereiro 09, 2008

A voz do silêncio

Pior do que a voz que cala, é um silêncio que fala. Simples, rápido! E quanta força!
Imediatamente me veio à cabeça situações em que o silêncio me disse verdades terríveis, pois você sabe, o silêncio não é dado a amenidades.
Um telefone mudo. Um e-mail que não chega. Um encontro onde nenhum dos dois abre a boca.
Silêncios que falam sobre desinteresse, esquecimento, recusas.
Quantas coisas são ditas na quietude, depois de uma discussão. O perdão não vem, nem um beijo, nem uma gargalhada para acabar com o clima de tensão. Só ele permanece imutável, o silêncio, a ante-sala do fim.
É mil vezes preferível uma voz que diga coisas que a gente não quer ouvir, pois ao menos as palavras que são ditas indicam uma tentativa de entendimento.
Cordas vocais em funcionamento articulam argumentos, expõem suas queixas, jogam limpo. Já o silêncio arquiteta planos que não são compartilhados. Quando nada é dito, nada fica combinado.
Quantas vezes, numa discussão histérica, ouvimos um dos dois gritar: "Diz alguma coisa, mas não fica aí parado me olhando!". É o silêncio de um, mandando más notícias para o desespero do outro.
É claro que há muitas situações em que o silêncio é bem-vindo. Para um cara que trabalha com uma britadeira na rua, o silêncio é um bálsamo. Para a professora de uma creche, o silêncio é um presente. Para os seguranças de um show de rock,o silêncio é um sonho.
Mesmo no amor, quando a relação é sólida e madura, o silêncio a dois não incomoda, pois é o silêncio da paz. O único silêncio que perturba, é aquele que fala. E fala alto. É quando ninguém bate à nossa porta, não há emails na caixa de entradanão há recados na secretária eletrônicae mesmo assim, você entende a mensagem.
(Martha Medeiros)

3 comentários:

Nessita! disse...

bah, muito verdadeiro isso. o silêncio oprime, indica, define. incrível como o não falar pode ser mais significativo que as palavras...
bjus!

Guiga disse...

Eu lendo e pensando "pô, ficou bom esse texto da Lé, hein!"...e aí tu me vem com a Martha Medeiros! Hehehehe!
Ela é muito foda no que escreve, e esse texto é todo muito verdadeiro!
O silêncio diz "não vou gastar minha saliva com você...", "não vou perder meu tempo explicando algo que você não vai entender", "não me interessa o que você acha". Uma bosta!
Ah, o site ficou lindooooooo!
Saudade!
Beijocas!

Mari Thomé disse...

não sou a fã de Martha Medeiros... Mas gostei. Ficaria aqui um século falando sobre outros silêncios que mais importam, como o do medo, da desconfiança e daquele que precede a lágrima que cai...
:)