Que pode uma criatura senão,
entre criaturas, amar?
Amar e esquecer, amar e malamar,
Amar, desamar, amar?
sempre, e até de olhos vidrados, amar?
Que pode, pergunto, o ser amoroso,
sozinho, em rotação universal,
senão rodar também, e amar?
Amar o que o mar traz à praia,
o que ele sepulta, e o que, na brisa marinha,
é sal, ou precisão de amor, ou simples ânsia?
Amar solenemente as palmas do deserto,
o que é entrega ou adoração expectante,
e amar o inóspito, o cru,
um vaso sem flor, um chão de ferro,
e o peito inerte, e a rua vista em sonho, e
uma ave de rapina.
Este o nosso destino: amor sem conta,
distribuido pelas coisas pérfidas ou nulas,
doação ilimitada a uma completa ingratidão,
e na concha vazia do amor a procura medrosa,
paciente, de mais e mais amor.
Amar a nossa falta mesma de amor,
e na secura nossa amar a água implícita,
e o beijo tácito, e a sede infinita.
(Carlos Drummond de Andrade)
novembro 29, 2006
Amar
Guardado por Leslie às 11/29/2006 12:10:00 AM
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4 comentários:
Linda poesia. Adorei seu blog.
Drummond é fantástico! Nada como uma poesia de amor pra eu ficar ainda mais apaixonada rsrsrsrs
bjs
Oi! Obrigado pela visita, eu consegui o estágio! :D
:)))
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